Mas, na minha família ninguém nunca foi exilidado e todo mundo é muito nostálgico. Não importa a idade, a gente gosta de lembrar com carinho daquele época boa que não volta mais.
O que ativa o setor de cérebro que traz a tona todas as lembranças é, na maioria das vezes, a música. Eu acho impressionante o poder que a música tem. Se eu fosse dada aos estudos certamente seria o objeto de alguma tese do tipo “A música e a psicanálise”. Deve até existir…
Existe sim. São 370 mil resultados no Google
Mas, como eu não sou estudiosa e esse blog não é científico, a gente se baseia no achismo mesmo e no que a prática nos permite aferir.
E a experiência me mostra que basta ouvir uma música para voltar imediatamente à mesma época a que ela te remete. Sente-se, inclusive, as mesmas sensações. Da infância, do auge da sua pré-adolescência, do show da semana passada, não importa. É ouvir e sentir.
Eu tenho um tio que adora sentir saudade. O lazer dele é colcoar um CD com músicas da Jovem Guarda e chorar lembrando da época em que ele era jovem e curtia as baladas numa cidade interiorana de Goiás.
O que revela outro poder da música: ultrapassar qualquer limite. Em plenos anos 60, um bando de cabeludos produziam um som que alcançava a juventude de todos os cantos do país. E marcaram a vida dessas pessoas de uma forma que elas, nem se quiserem, esquecem. Porque basta ouvir a música para “viver de novo aqueles momentos”.
Eu não vivi aquela época, mas de tanto ouvir depoimentos saudosos e carinhosos de quem viveu e de tanto ouvir as músicas preferidas do meu tio – e do meu pai, que também é fã incondicional – eu meio que também sinto saudade.
Eis outro poder da música – despertar sentimentos saudosistas de coisas que você nem viveu
Acontece sempre comigo. Sejam as músicas da Jovem Guarda, ou as músicas emblemáticas da ditadura, dá uma saudade do que não foi vivido, mas, que se imagina: teria sido bom. Mais uma vez, Freud seria bem-vindo aqui.
É por essas e outras razões que a música é fascinante. Apaixonante. Seja ela qual for, o interessante é o que ela produz dentro da gente.
E toda essa verborragia veio a tona justamente por causa de uma música
Essa semana (19/10) a banda The Cranberries fez um show em Brasília. E mesmo eu sendo uma pirralha que não entendia nada de música no mometo auge da banda, Cranberries marcou uma época muito doce da minha vida.
Aquela época em que você e seus primos são crianças felizes, sem responsabilidade nenhuma, passando a temporada de férias na casa da avó e brincando de imaginar o que seria legal ser quando crescer.
E pra gente seria legal ter uma banda
A música que a gente dublava era “Ode to My Family”. Com direito a todos os “tchu tchuru tchu” da Dolores O’Riordan. Ninguém fazia a menor ideia do que aquelas palavras em inglês significavam. Mas agora, depois das aulas do cursinho, me impressiona como a letra traduz exatamente aquela época que a gente vivia.
Agora, depois de quase 15 anos, a letra faz todo o sentido. E é ouvir para sentir até o cheiro de “férias na casa da avó com todos os primos reunidos no alpendre”.