Saudades musicais

por Carolina Martins
 
:: Nostalgia::
tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal

Segundo o Aurélio, essa é a definição.

Mas, na minha família ninguém nunca foi exilidado e todo mundo é muito  nostálgico. Não importa a idade, a gente gosta de lembrar com carinho daquele época boa que não volta mais.  

 

 Se bem que,  lá atrás, quem deu origem à minha família devia ser exilado sim. Tudo começou com um grande exílio de escravos africanos aqui no Brasil. Foi inclusive naquele cenário que surgiu a definição de banzo. Mas, deixemos a viagem freudiana para uma outra ocasião

 

O que ativa o setor de cérebro que traz a tona todas as lembranças é, na maioria das vezes, a música. Eu acho impressionante o poder que a música tem. Se eu fosse dada aos estudos certamente seria o objeto de alguma tese do tipo  “A música e a psicanálise”. Deve até existir…

Existe sim. São 370 mil resultados no Google

Mas, como eu não sou estudiosa e esse blog não é científico, a gente se baseia no achismo mesmo e no que a prática nos permite aferir.

E a experiência me mostra que basta ouvir uma música para voltar imediatamente à mesma época a que ela te remete. Sente-se, inclusive, as mesmas sensações. Da infância, do auge da sua pré-adolescência, do show da semana passada, não importa. É ouvir e sentir.

Eu tenho um tio que adora sentir saudade. O lazer dele é colcoar um CD com músicas da Jovem Guarda e chorar lembrando da época em que ele era jovem e curtia as baladas numa cidade interiorana de Goiás.

O que revela outro poder da música: ultrapassar qualquer limite. Em plenos anos 60, um bando de cabeludos produziam um som que  alcançava a juventude de todos os cantos do país. E marcaram a vida dessas pessoas de uma forma que elas, nem se quiserem, esquecem. Porque basta ouvir a música para “viver de novo aqueles momentos”.

 

Jovem Guarda: ultrapassando barreiras geográficas, deixou saudade no coração da juventude dos anos 60

 

Eu não vivi aquela época, mas de tanto ouvir depoimentos saudosos e carinhosos de quem viveu e de tanto ouvir as músicas preferidas do meu tio – e do meu pai, que também é fã incondicional – eu meio que também sinto saudade.

Eis outro poder da música – despertar sentimentos saudosistas de coisas que você nem viveu

Acontece sempre comigo. Sejam as músicas da Jovem Guarda, ou as músicas emblemáticas da ditadura, dá uma saudade do que não  foi vivido, mas, que se imagina:  teria sido bom. Mais uma vez, Freud seria bem-vindo aqui.

É por essas e outras razões que a música é fascinante. Apaixonante. Seja ela qual for, o interessante é o que ela produz dentro da gente.

E toda essa verborragia veio a tona justamente por causa de uma música

Essa semana (19/10) a banda The Cranberries fez um show em Brasília. E mesmo eu sendo uma pirralha que não entendia nada de música no mometo auge da banda,  Cranberries marcou uma época muito doce da minha vida.

Aquela época em que você e seus primos são crianças felizes, sem responsabilidade nenhuma, passando a temporada de férias na casa da avó e brincando de imaginar o que seria legal ser quando crescer.

E pra gente seria legal ter uma banda

A música que a gente dublava era “Ode to My Family”. Com direito a todos os “tchu tchuru tchu” da Dolores O’Riordan. Ninguém fazia a menor ideia do que aquelas palavras em inglês significavam. Mas agora, depois das aulas do cursinho, me impressiona como a letra traduz exatamente aquela época que a gente vivia.

Agora, depois de quase 15 anos, a letra faz todo o sentido. E é ouvir para sentir até o cheiro de “férias na casa da avó com todos os primos reunidos no alpendre”.

Cranberries - "Unhappiness, where's when I was young and we didn't give a damn"

 

 
Ouvir esse e outros sucessos ao vivo foi surreal! Porque se escutar as músicas em casa já te permite viajar, ouvir e ver a banda tocar ao vivo expande as fronteiras. Porque música é isso. Música é sentimento. 
 

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Pela estrada a fora eu vou bem sozinha…

por Carolina Martins

Foi-se o tempo em que fábulas infantis eram estórias inocentes usadas para entreter as criancinhas. Agora elas também são fonte de inspiração para belas canções que divertem pessoas não tão inocentes assim.

No Festival de Verão desse ano Ivete Sangalo lançou, em Salvador, a sugestiva Lobo Mau, fazendo alusão ao vilão do conto Chapeuzinho Vermelho.

No melhor estilo swingueira de ser, a música bombou no Festival e também deve fazer estragos nesse Carnaval.

"Eu sou o lobo mau, hau hau"

Sabe a música chiclete? Aquela que você escuta uma vez, decora a letra sem a menor dificulade e a melodia não sai da sua cabeça nunca mais. Lobo Mau é isso aí. Tudo que um hit precisa para ser sucesso no Carnaval. Aliás, tudo que um hit precisa para ser sucesso em Salvador. Chiclete com Banana, Asa de Águia, Parangolé e cia seguem essa fórmula e ganham muito dinheiro assim. Senhoras e senhores, eis o axé.

E isso é bom o ruim?

Se diverte as pessoas e não ofende ninguém, qual é o problema? Há quem critique o axé, argumentando que o ritmo é pobre musicalmente, tem letras que não dizem nada e danças que vulgarizam a mulher.

É. Pode até ser.

Mas qual é o propósito da música? Axé não é como bossa nova ou MPB, que permite uma reflexão da vida, uma interpretação das letras, uma sinfonia de notas musicais complexas. Não é e nunca se propôs a ser. O único objetivo do axé é fazer com que as pessoas “tirem o pé do chão”. E basta.

 

Taí Netinho que não me deixa mentir

O axé não é para ouvir em casa, refletir filosoficamente sobre as músicas, sentir os acordes… nada disso. O axé é só pra farra. O axé é só pra Carnaval, seja ele dentro ou fora de época.

Sabendo disso, os axezeiros provocam e abusam da licença poética. As composições estão cada dia mais primorosas. E foi isso que inspirou mais um Entrelinhas Musicais ::hits de carnaval:: Olha só:

LOBO MAU

Chapeuzinho onde você vai? Diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho onde você vai? Diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho onde você vai? Diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho onde você vai? Diz aí menina que eu vou atrás

Pra que você quer saber?
Em tempos violentos como esses, essa não seria a melhor pergunta a se fazer. O ideal seria mentir sobre o destino, ou chamar a polícia, já que está sendo seguida. Mas tá valendo!

Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau

E o que você vai fazer?
Mais uma vez, pergunta errada.

Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Ou é canibal ou é tarado. Nenhuma das opções é agradável. Se bem que, conheço gente que ia gostar…

Merenda boa, bem gostosinha
quem preparou foi a vovozinha.
êta danada, êta!
Merenda boa, bem gostosinha
quem preparou foi a danadinha
êta danada, êta!
Esse trecho é uma incógnita. Estão falando de quê? Que merenda? Quem é a merenda? Mas é axé, né?! Às favas com a compreensão lógica.

Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer
Vou te comer, vou te comer, vou te comer.
Rezemos pelas mulheres que estarão em baixo do trio. O que vai dar de lobo mau bêbado fazendo gracinha… E lobos maus de plantão: não esqueçam a camisinha.

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A culpa é do homem do gás

por Carolina Martins

Dando sequência ao Entrelinhas Musicais especial ::hits de carnaval:: o Pitacos tem a honra de apresentar a banda que, se não for, deveria ser a reveleção deste verão: Tanga de Sereia!

A banda já tem 3 CD’s, mas só hoje eu tive o prazer de conhecer o repertório. Sensacional. Com certeza vale uma petisco.

Além das letras, que são tocantes e poéticas, eles também produzem os clips, merecedores do Video Music Awards. Uma pegada “Almodóvar brega” apaixonante.

E o melhor de tudo: o Entrelinhas musicais não tem nada pra analisar. As letras, por si só, dizem ao que vieram. Direto e reto.

Olha que perspicácia:

Ele vive mentindo, dizendo que eu não passo de uma vadia
que me deito com todos e já não respeito a nossa família
o que ele esconde é que me deixa só a semana inteira
por isso eu vou contar, a história verdadeira.

Foi num dia desses, ao pé do fogão, preparando a comida
O feijão na panela, o fogo apagou, eu fiquei tão aflita
bateram na porta, fui atender, era um belo rapaz
com seu olhar tão quente, perguntou se eu queria gás
eu tão necessitada, mandei ele entrar, não esqueço jamais
e com meu corpo em chamas, fiz amor com o homem do gás
e com meu corpo em chamas, fiz amor com o homem do gás
e com meu corpo em chamas, fiz amor com o homem do gásssssssshhh

Quem quiser, fale mais,
eu só fiz com o homem do gás.
Quem quiser, fale mais,
Eu só fiz com o homem do gás.
Eu só fiz com o homem do gás…

Mas, melhor que a letra é o conjunto da obra.  Aprecie com moderação:

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Entrelinhas musicais ‘carnavalizado’

por Carolina Martins

E chegou! O mês do Carnaval, enfim, começou.

Como o Pitacos é um blog adepto dessa data festiva tão característica do brasileiro e se assume um tanto quanto carnavalesco, vamos dedicar uma sessão específica para a festa: é o entrelinhas musicais especial ::hits de carnaval::

Quem nunca sambou com a Globeleza ao ritmo de "na tela da TV no meio desse povo"?

O Entrelinhas Musicais se permite analisar as letras de músicas, contextualizar, interpretar, fazer suposições e tentar desvendar as intenções ocultas de cada verso, ou seja, dar pitaco na composição musical alheia.

Para quem não lembra, a gente estreou a sessão com a sensacional “Eu sou Stefhany“. E agora, em fevereiro, vamos analisar tudo o que mais bomba no carnaval: letras de samba-enredo, marchinhas de blocos, hits do verão de Salvador… Tudo para compreender a riqueza poética das composições carnavalescas.

Para começar a escolhida foi “‘Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília do sonho à realidade, a capital da esperança” – samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis.

Questionamento inicial: por que nome de samba-enredo tem que ter o tamanho de um versículo bíblico? A comparação feita entre o sagrado e o pagão foi meio infeliz, mas… por que um nome tão grande? QUEM decora esse nome? Duvido que o autor do samba lembre o nome de cabeça.

Falando em autor, vamos dar os créditos: Picolé da Beija-Flor, Serginho Sumaré, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Dison Marimba e André do Cavaco são os compositores.

Outra coisa intrigante é o nome de guerra desses sambistas, né?! O que será que rendeu ao Picolé da Beija Flor esse apelido carinhoso? Mentes puras imaginam uma coisa, mentes pervertidas podem supor outra… enfim, vamos ao samba.

Tá, mas por que começar com a Beija-Flor?

Não, o Pitacos não torce pela Beija-Flor, pelo contrário. Acha até muito engraçado o fato da escola que participa todos os anos do Big Brother Brasil ganhar todos os carnavais.  Seria Roberto Marinho alviceleste? Seria Boninho patrocinador do Neguinho? Perguntas cujas respostas esclareceriam algumas coisas sobre a disputa carioca de escolas de samba, mas que não são o próposito deste post.

O Pitacos só escolheu a Beija-Flor porque a escola escolheu o pior momento para homenagear Brasília.

"Viva a cidade do mensalão!"

A Beija-Flor recebeu R$ 3 milhões do Governo do Distrito Federal para comemorar na avenida os 50 anos de Brasília.

“Projeção nacional. O mundo todo acompanha o carnaval do Rio. A Globo sempre apoia a Beija-Flor. Ah! Vamos bombar Brasília!” – pensou o Arruda

Mas se ele soubesse que descobririam o mensalão e que por isso Brasília ia virar o assunto do momento, teria economizado os R$ 3 milhões.

E se Beija-Flor soubesse que a imagem de Brasília estaria fodida como está, teria cobrado mais caro, pra compensar a vergonha que vai passar entrando na Sapucaí exaltando a capital da propina.

Mas, enfim, vamos ao samba (agora vamos mesmo):

Dádivas o Criador concedeu
Fez brotar num sonho divinal o mais precioso cristal
Lágrimas, fascinante foi a ira de Tupã
Diz a lenda que o mito Goyás nasceu
Dádivas do criador? Nada. Foi JK que ordenou trazer um monte pedreiro para construir um cidade em tempo recorde. 
Lágrima de Tupã? Nada. Foi suor dos pionerios pressionados para acelerar a obra. E Goiás não é mito não. Existe sim. É de lá que vem o sertanejo que arrasta milhares de brasilienses para pecuária todos os anos. 

O brilho em Jaci vem do olhar
Pra sempre refletido em suas águas
A força que fluiu desse amor é Paranoá… Paranoá
Óh! Deus sol em sua devoção
Ergueu-se no Egito fonte de inspiração
Pássaro sagrado voa no infinito azul
Abre as asas bordando o Cerrado de Norte a Sul
Ah tá! Agora o Paranoá é fruto de amor. Paranoá é uma lago construído artificialmente para que os candangos não morressem secos no meio do Cerrado. Acharam que era só derrubar o mato e construir uma cidade no deserto, esquecendo que a espécie humana precisa de mais de 40% de umidade no ar para sobreviver com alguma descência. Agora, se dava pra construir um lago de mentira… porque não fizeram um orla, uma prainha, um calçadão, umas barracas de coco?

Ah! Terra tão rica é o sertão
Rasga o coração da mata desbravador!
Finca a bandeira nesse chão
Pra desabrochar a linda flor
Trecho ecologicamente condenável, já que confunde cerrado com sertão e incentiva o desamatamento. E convenhamos, não é justo rasgar o coração da mata por causa de uma simples flor.

No coração do Brasil, o afã de quem viu um novo amanhã
Revolta, insurreições, coroas e brasões
Batismo num clamor de liberdade!
Segue a missão a caravana em jornada
Enfim a natureza em sua essência revelada
Que revolta?  Seria uma referência ao movimento das Diretas? Porque tá longe de ser revolta, né?! Revolta é tipo a “Revolta da Vacina”, “Revolta da Chibata”. A não ser que seja a revolta dos senadores e deputados quando tiveram o auxílio-viagem cortado! Aí sim você via gente revoltada.
E que insurreições? Será que faz menção à invasão da reitoria da UnB? Ou da Câmara Legislativa? Insurreiçãozona, hein?! Insurreição pernambucana é fichinha perto dessa!
E “enfim a natureza em sua essência revelada” parece frase de hare krishna, ou de Bob Marley.

Firmando o desejo de realizar
A flor desabrochou nas mãos de JK
A miscigenação se fez raiz
Com sangue e o suor deste país
Vem ver… A arte do mestre num traço um poema
Nossa Capital vem ver …
Legião de artistas, caldeirão cultural!
Orgulho, patrimônio mundial
E houve derramamento de sangue pra que acontecesse a miscigenação? O suor eu até entendo, o movimento é intenso, rola uma transpiração. Mas sangue? Sangrou? Ah… entedi! Era pura!

Sou candango, calango e Beija-Flor!
Traçando o destino ainda criança
A luz da alvorada anuncia!
Brasília capital da esperança
O que a luz da Alvorada anuncia só Lula deve saber, porque a maioria dos brasilienses mora bem longe do Palácio. Mas não deve ser esperança… Só se for a esperança de vida de Oscar Niemeyer. Aí sim, ainda há alguma.

Ouve aí o sambão e mande a sua interpretaçãos dos versos:

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Começamos bem

por Carolina Martins

Último dia do primeiro mês do ano e você:

A) Esqueceu todas as promessas de ano novo que fez: continua tomando refrigerante e NÃO se matriculou na academia

B) Não tem nenhuma resolução de ano novo porque não acredita nessas coisas. Acordou no dia primeiro do mesmo jeito que foi dormir no dia 31.

C) Ainda tem guardada a lista das “10 coisas que eu preciso fazer em 2010”, mas vai começar a se empenhar mesmo só depois do Carnaval – afinal é só então que o ano começa de verdade.

<<Ano novo>> é uma expressão que deixa todo mundo meio otimista, né?!
“Agora eu vou mudar!”, “Esse ano eu arrumo um namorado!”, Esse ano eu peço o divórcio!”, “Esse ano eu arrumo um emprego com salário melhor!”, “Esse ano eu emagreço!”, “Esse ano eu dou jeito de atualizar o blog todo dia!”.

Quando você vê  “esse ano” acabou e está tudo mais ou menos igual.

As esperanças do dia 1º vão se esvaindo com o passar dos meses. Ainda mais quando você vê que aceitar dinheiro de propina e esconder na meia  é uma coisa banal. Que tudo bem fazer treta, pedir uma lincença médica pra deixar a poeira baixar e voltar dias depois pra reassumir o posto de presidente da Câmara.

 

Você meio que perde a fé nas pessoas quando se dá conta que tem político fazendo roda de oração pra agradecer o mensalão de cada dia.

E o otimismo desaparece quando você percebe qua vai ficar tudo por isso mesmo, que o comandante do esquema pede perdão e acha que tudo bem e que um ano de eleição começa sem muita perspectiva de mudança.

Porque fevereiro taí! Agora só vai dar samba-enredo, trio elétrico e boneco de Olinda nos noticiários do país. Não que eu seja contra, longe de mim contestar o pão e circo – até porque é o circo é que nos desopila para aguentar  as palhaçadas – mas é que esse intervalo de uma semana regada a “sol, carnaval, futebol”  faz a galera ter uns lapsos de memória.

Sem falar nos paredões,  nas roças… é muita coisa pro brasileiro se preocupar.

 

"Tem que votar pra quem fica ou pra quem sai?"

Quando chega outubro a galera já tá meio que de saco cheio. Sem falar na Copa do Mundo que fica ali, no meio de campo entre o carnaval e as eleições. Todas as energias são gastas com a seleção e empenhadas na busca pelo hexa.

Aí a gente esquece do regime, do namoro, do blog, do mensalão… E lá se foi mais um ano. Até que em 31 de dezembro a gente lembra que é possível recomeçar.

** Mas pra quem está realmente determinado em dar uma guinada na vida, o Pitacos recomenda Revoluções de Ano Novo.

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A arte da publicidade

Carolina Martins

É incrível o que a gente recebe por email hoje em dia.

Tem um deputado sei lá de onde que toda semana manda pra mim um resumo dos “maravilhosos” projetos que ele propôs ou ajudou a aprovar na Câmara Legislativa.

Como ele conseguiu o meu email era tudo que eu gostaria de saber. Eu penso que esses políticos têm uma equipe de assessores só pra ficar descobrindo emails. Eles digitam endereços aleatórios no “Para” e mandam. Os emails que voltam, eles limam da lista de contatos, ou outros vão pro mailing e aí já era!

E esses assessores são sacanas! Quando eles estão sem saco pra trabalhar, pegam a lista inteira do MSN e jogam na roda. Pegam email de ex-namorado, da tia que abriu uma conta num momento de empolgação mas nem lembra mais da senha, do email que o irmão fez só pra ter um fake no orkut… todos viram potenciais eleitores. Mesmo que o deputado seja de Gurupi em Tocantins  e você more em Brasília.

A mesma coisa acontece com as propagandas dos eventos mais badalados da cidade (ou de fora dela). Queria eu ter grana e disponibilidade para ir em todas as festas que eu recebo flyer eletrônico. Todo sábado rola uma festinha marota num barzinho lá em Goiânia que eu nem sei onde fica, mas mesmo estando a 300km de distância, a galera coloca meu nome na lista vip se eu responder o email.

Agora que nossos parlamentares optaram por deixar a internet livre para campanha eleitoral (ah tá! como se fosse possível controlar!), imagine como vai ficar a sua caixa de email a partir de junho do ano que vem!

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Os mais empreendedores já viram na oportunidade uma fonte de dinheiro. Afinal, quem não vai querer ter um site próprio para divulgar suas propostas e encher o saco dos internautas?

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Mas, desconsiderando todo o lixo eletrônico, correntes e piadas infames que a gente recebe por email, tem muita coisa interessante que só é divulgada graças a rede mundial de computadores.  Propagandas de motel, por exemplo!

Oi?

Em Brasília alguns outdoors de motéis já foram censurados. A população mais puritana se onfende com algumas imagens usadas para divulgar as promoções de duas horas por apenas R$19,90. Realmente. Algumas fotos são apelativas e chegam a ser um atestado de falta de criatividade, já que fotografia de mulheres seminuas em poses sensuais é um tanto quanto óbvio na publicidade de motéis. 

E foi por email que eu recebi umas propagandas de motel, de diversas regiões do país, que são a prova de que não precisa ser apelativo pra chamar atenção.

Porque para bom entendor meia palavra basta

Porque para bom entendor meia palavra basta

E se no lugar de fotos sensuais forem usados desenhos e caricaturas que, juntos, transmitem uma mensagem subliminar para os mais inocentes?

Dar banho no pato?

Dar banho no pato?

Mas,  se o objetivo é mensagem subliminar, o Fórum Hotel, em Recife, abusou:

Entendeu?

Entendeu?

E tem aqueles que apelam. Às favas com a monogamia, o importante é o lucro do estabelecimento:

Fazer o bem sem olhar a quem (?)

Fazer o bem sem olhar a quem

Mas o melhor mesmo foi o Super 8 Motel. A prova de que menos é mais:

Simples, direto e objetivo

Simples, direto e objetivo

Os marketeiros políticos podiam pegar umas dicas com a galera responsável pela publicidade dos motéis. Pode até não funcionar, mas pelo menos os eleitores se divertiriam. E afinal, o mote é o mesmo: no Congresso ou no motel, é tudo putaria.

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Johnny Castle é rei!

por Carolina Martins

Patrick Sawyze. Mais um que seguiu a luz em 2009.

Para quem estava acostumada com Johnny Castle, ver o Patrick definhando por causa do câncer foi meio traumático.

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Mas é da vida… nasceu, cresceu, pegou a Baby, a Demi Moore e morreu. Uma jornada considerável.

Sei que quando vi o filme pela primeira vez tinha quase vinte anos que ele havia sido lançado. Mas, Dirty Dance – Ritmo Quente é um dos clássicos que elegi para decorar até a fala das personagens. Não canso de assistir.

O objetivo desse filme é ensinar as pessoas a nunca respeitar os avisos dos hóteis que dizem “entrada autorizada somente para funcionários”. Depois que Baby encontrou o amor da vida nos porões daquele resort dos Kellerman, qualquer lugar onde a entrada de hóspedes é proibida se tornou tentador.

Johnny Castle marcou nossas vidas. Porque só ele tem as manhas de olhar nos olhos do pretenso sogro e desafiá-lo com um sonoro e intimador “no body puts Baby in a corner”!

Só ele dança a The time of my life daquele jeito e deixa o melhor pro final, seduzindo toda a mulhereda (quiçá alguns homens também, porque o Kellerman-neto nunca me enganou), com aquela olhadinha durante o “and I owe it all to you” final. Quem viu o filme sabe, só Patrick consegue.

E como Dirty Dance é um dos DVDs que a gente teve coragem de comprar original (versão exclusiva pra colecionador e tudo, com direto a show de lançamento da época e entrevista com os atores depois de duas décadas), o Pitacos não poderia deixar de render suas homenagens a Sawyze. Afinal, atire a primeira pedra a mulher que nunca pensou em substituir a valsa do casamento pela dancinha final de Ritmo Quente. Mas… só Patrick tem aquele charme. Não adianta ensaiar, ninguém vai conseguir dar aquela olhadinha!

*pra quem não viu, a olhadinha está no 4:08 do vídeo*

Patrick Sawyze
1952 – 2009

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11 de setembro

por Carolina Martins
World Trade Center

World Trade Center

 

Há oito anos atrás eu estava em uma aula de História da 8ª série quando o marido da professora ligou falando que tinha começado uma guerra nos EUA: um avião tinha se lançado contra uma das torres gêmeas.

Alguns minutos depois ele ligou de novo: “Outro avião na outra torre! Uma tragédia!”

“É o início da terceira guerra mundial, turma!”

Então bora todo mundo pra cantina ver na televisãozinha como é que está a cobertura da Globo!

Acidente?
Atentado?
Estariam indo pra Casa Branca?
É o fim do mundo?

Teve gente que morreu, teve gente que chorou, teve gente que fez piada, teve gente que fez filme, teve gente que ganhou dinheiro…

Mas as duas torres do Congresso Nacional continuam intactas. E com um bigodudo à frente de uma delas.

Não que eu queira um avião destruindo tudo, longe de mim… até que eu gosto da arquitetura do Congresso, da paisagem… acho bonita.

Além do mais, os principais alvos não estariam lá dentro… a não ser que agendassem uma votação para aumento de salário dos parlamentares. Aí… de repente… quem sabe….

Mas o avião tinha que ser potente, pra atingir até os escritórios subterrâneos dos Agaciéis Maias da vida.

Atentado terrorista não. Mas um atentado patriótico de uma população revoltada com a palhaçada que aqueles senhores fazem com a nossa cara… isso sim, tá passando da hora!

jmarcos

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Ofensivo ou criativo?

por Carolina Martins

Aids
>> Síndrome da Imunodeficiência Adquirida que  se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV.

HIV
>> O HIV pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e pelo leite materno.  

Aids tem tratamento.
Aids não tem cura.

Cazuza morreu de Aids.
Renato Russo morreu de Aids.

Como faz então?

Governos do mundo inteiro não se cansam de fazer campanhas para estimular a prevenção e o sexo seguro. Daí que uma entidade humanitária alemã, a Regenbogen, lançou esta campanha:

 

"A aids é uma assassina em massa"

"A aids é uma assassina em massa"

 Qual é o objetivo? Qual a sua interpretação dessa campanha? Que mensagem ela passou pra você?

 

 

(pausa para reflexão)
.

.

.

 

 

Pro Pitacos a mensagem chegou assim:  uma forma criativa/bizarra de pintar a Aids como um “perigo mortal”.

 

Mas, para a  ONG alemã Deutsche Aids Hilfe (Ajuda Alemã contra a Aids) a mensagem chegou assim: uma forma de comparar os infectados pela doença com assassinos em massa.

A liberdade de interpretação as vezes dá uma merda…

Sinceramente, eu não relacionei a imagem de Hitler com a de um soropositivo sarcástico transando sem camisinha só pra espalhar o vírus. Na minha leitura, Hitler tá representando a doença, o vírus. O maldito HIV. Tanto que o lema diz exatamente isso. Compara a Aids a um assassino em massa, e não o portador do vírus.

Ou não?

Sei que a ONG exigiu a suspensão da campanha, considerando que ela “discrimina e estigmatiza” os portadores do vírus. Para o órgão, as imagens são repugnantes, ofendem todas as vítimas do nazismo e “não têm nenhuma mensagem sobre como se proteger do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis”. Estão até pensando em processar a Regenbogen, que planejava lançar a campanha no Dia Mundial da Luta Contra a Aids – 1º de dezembro.

Além de Hitler, a Regenbogen também pensou em nomes fofos como Stalin e Saddam Hussein para ilustrar a campanha.     
                                                                                        

Saddam

 

Stalin

 

Bem ou mal, a campanha chamou a atenção do mundo inteiro. Dá uma olhadinha no vídeo e decida se ela é boa ou ruim. Depois volte aqui e vote na nossa enquete.

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Ressuscitando (mais uma vez!)

por Carolina Martins

Então tá, então!
Tá na hora de reativar esse negócio aqui! De novo!

A falta de tempo faz a gente ter algumas prioridades na vida. Por esses tempos o Pitacos ficou meio pra terceiro plano. Mas, como a mente não pára e o cyberespaço está aqui, à minha inteira disposição, resolvi dar vazão às minhas sinapses!

Desde o último post que apareceu por aqui, em junho, muita coisa aconteceu: crise no Senado, o fim do moonwalker oficial, invalidaram o diploma dos jornalistas (ah tá!), subcelebridades se engalfinharam numa fazenda em Itu, e o Sarney continua lá.

E setembro já chegou… e está com pressa pra ir embora! De repente, taí, quase no meio do caminho. Como a pedra de Drummond.

!

!

Drummond é um dos meus preferidos.
Sentar ali e bater um papo com ele na beira da praia num fim de tarde seria revitalizante. Qualquer dia eu faço isso!  Mas… enquanto a TAM não faz uma promoção relâmpago de passagens para o Rio de Janeiro,  a gente se contenta com as divagações.

O que me encanta no Drummond é a capacidade de compreender a angústia humana.  Por exemplo: depois que acaba a sua festa de formatura, vai dizer que você  não se sente um José?

“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?”

Ou então, quando você lê no jornal, vê na televisão e ouve no rádio a mesma coisa. A mesa corrupção, o mesmo nepotismo, o mesmo bigodudo à frente do Senado, o mesmo desvio de verba, os mesmo lenga-lenga de CPI’s… tudo num Igual-Desigual.

“Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.”

Ou então, quando você sai pra trabalhar e lembra como era bom passar as tardes em casa, tomando leite com Toddy, assistindo desenho e gritando o nome dos vizinhos para jogar pique-bandeirinha. Mas, como dizia Drummond, a madureza chegou e sem pedir permissão roubou toda a liberdade. É mais ou menos isso, só que com ele é mais bonito: 

“A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.”

E, quando você percebe que o amor da sua vida pensa em outra pessoa pra amar a vida toda, você aprende rapidinho os passos da Quadrilha.

Drommond morreu há 22 anos, cinco dias antes da minha mãe me por pra fora com placenta e tudo.

É louco como as coisas boas não morrem nunca. É louco como um poema escrito há quase 50 anos ainda traduz os mesmos sentimentos de agora. É louco como alguém consegue atingir tanta gente de tantas gerações. É louco como é difícil dormir cedo depois que você senta na frente de um computador.

Mas, já que o papo é poeta, una-mos letra e melodia. Carlos inspirando Chico:

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